sábado, 25 de julho de 2009

A geração controle remoto.

No decorrer de nossas vidas, na exata medida em que o tempo passa vamos acumulando logicamente, experiência e maturação. Com essa coletânea, algumas cicatrizes e marcas são indeléveis, tanto no aspecto físico, quanto no que tange às nossas memórias, condutas e costumes, e de posse de tais “dádivas” adquirimos também a capacidade de poder avaliar melhor os fatos, atos e fenômenos, sejam eles naturais ou humanos que nos cercaram, nos cercam e ainda estão por se produzir.

No âmbito cronológico não faz muito tempo em que os valores morais e sócio-culturais eram bem diferentes. Até em assuntos gastronômicos se tinha outro universo de guloseimas tais como: toucinho, feijão com todos os ingredientes, bife feito na banha de porco, café triturado no pilão e torrado em casa, fubá feito no moinho do quintal, verduras e frutas produzidas sem um grama sequer, de agrotóxico, e informe-se que não eram os chamados vegetais hidropônicos, aqueles cultivados dentro d´água como o próprio nome indica, galinha de capoeira gorda pra receber a família e as visitas aos domingos e feriados, tudo isso sem culpa nenhuma, é claro. Enfim, era um tempo de alimentação rústica, porém, sincera, pura e substancial, que estava apta a suprir a dureza do trabalho, da vida sem automóveis, de um cenário sem computadores, ar-condicionados, celulares e outros “brinquedos” surgidos no mundo moderno e pós.

Era uma atmosfera muito diferente também, porque as relações humanas eram quentes e afetuosas, não só no aspecto do contato físico, sobretudo, no que se refere ao respeito recíproco, à solidariedade e compaixão, probidade e honestidade no sentido mais amplo da concepção de seus significados, e das várias formas e meios existentes.

Por sua vez, o romantismo era moeda vigente e muito bem cotada. Estava “na moda” tanto no encantamento dos enamorados em si, quanto nos sonhos e ideais de retidão de caráter e condutas que permeavam a sociedade. Surgia o grande meio de comunicação, o “rádio” e seu sucesso estrondoso, onde famílias se reuniam pra escutar os mais variados programas e músicas.

A “vergonha na cara” era a regra, nunca a exceção! Acordos e negócios eram selados com o poder e a garantia do fio do bigode, e da palavra empenhada. Nada mais era necessário, pois, quebrar promessa era motivo pra reprovação geral da “tribo”, ante o pacto de valores então em voga.

Pois bem, num pequeno intervalo de tempo como dito, tudo mudou e ainda está mudando. Atualmente, o que vale pra grande mídia é ganhar como puder. Não importam os meios, o importante é vencer, conquistar e comprar. Ganhar e comprar mais, tudo: dinheiro, posição, status, poder, amor “de locação”, e tudo o mais do que estiver ao alcance dos olhos da ambição, do paradoxal “politicamente” correto, nem que para isso as pessoas tenham que vender a alma a não sei quem (…), ou matar a própria mãe.

Programas de TV ensinam as pessoas a passarem a perna umas nas outras, “instruem” como montar um circo de horrores com requintes de rituais macabros, onde colocam a pessoa humana sob o comando do ridículo. As músicas conclamam e incitam os jovens à violência, à banalização do sexo, e ao consumo de drogas lícitas e ilícitas.

Na medida contrária a tudo isso, os pais e a família são instituições ultrapassadas. Os amigos só interessam enquanto interessam, naquele conceito do ter em detrimento do ser. O que importa é o tênis de marca, a calça da hora, o melhor whisky, o carro cujo modelo é do ano que ainda nem aconteceu. Falar em Deus então, não dá ibope algum, é muito careta (!).

Apresentamos ao respeitável público: “a geração do controle remoto”, onde as pessoas só servem até quando não nos dão tédio ou “dor de cabeça”, depois são trocadas por outras, no imediatismo de um simples toque no botão do controle remoto, seguindo o manual das leis do aparelho eletro-eletrônico social vigente.

Estamos criando uma geração do consumismo sem limites (do já, do logo, do vamos, do ainda não foi?), onde o hoje já é tarde, porque não se tem tempo pra nada, inclusive, pro respeito, lealdade, carinho, caridade, amor ao semelhante, atenção, solidariedade, tampouco, pro lado espiritual. Quanto tempo mais vai ser necessário para percebermos que estamos errados (?).

Isso ainda pode nos custar um preço muito caro. Talvez, um preço que nosso “cartão de crédito” não possa suportar (…). Ressalto que, não se trata de puritanismo, muito pelo contrário. Na verdade algum dia chegaremos a conclusão de que legal mesmo é sermos realmente humanos, e fazermos uso de nossas qualidades e vocações íntimas, ou seja: utilizarmos tudo aquilo o que é inato e normal, como num passado bem próximo o fizemos.